terça-feira, 1 de setembro de 2009

O meu Bairro de Alfama

O Bairro de Alfama é o bairro mais antigo da cidade de Lisboa e um dos mais típicos. O seu nome deriva do árabe Al-Hamma que significa banhos ou fontes.
O Bairro de Alfama que me viu nascer, onde cresci e onde vivo há 41 anos está completamente descaracterizado.
Cresci em Alfama a jogar à bola e a correr nas ruas, a ver homens e mulheres de trabalho a irem para os seus empregos e ao fim do dia quando regressavam a suas casas não iam em passo apressado mas sim a desfrutar dos prazeres que Alfama lhes dava.
Estivadores, fragateiros, empregados e empregadas de bancos e dos despachantes, mulheres da limpeza, enfim uma panóplia de trabalhadores, calcorreavam de manhã e à tarde as ruas do bairro dando vida e alma a Alfama, bairro que se assemelhava a uma antiga aldeia na qual as pessoas se conheciam e cumprimentavam diariamente.
Nos dias que correm, o meu Bairro já não é nada do que atrás referi.
Já não se vêem miúdos a jogar à bola nem a brincar na rua, as pessoas que trabalham no bairro quase que se contam pelos dedos, tornando quase desertas as ruas, escadarias e vielas do bairro. As poucas que ainda trabalham, na maioria empregados da construção civil, entram e saem do bairro em passo apressado.
Onde se via pessoas a passar nas ruas, na azáfama do dia-a-dia, ou para trabalhar ou a fazer compras ou ainda a passear, nos dias que correm o que se nos depara são pessoas que vivem do rendimento mínimo encostadas às esquinas, sentadas nas escadas esperando que as horas do dia passem, qual comboio rápido pelas estações. Certo que há pessoas a receber o rendimento mínimo que tendo sido despedidas não tendo já idade para trabalhar o recebem porque não têm mais nenhum apoio do Estado, mas a maioria são jovens que não querem trabalhar e que se habituaram a este tipo de vida e de lá não querem sair, homens e mulheres que vivem de expedientes denegrindo a imagem do povo trabalhador, sério e honesto que sempre foi o povo de Alfama.
Povo que apenas pretende manter essa velha tradição.
As sistemáticas crises e os governos que têm governado o País são uma quota parte da culpa no que diz respeito a criar empregos e nas sucessivas políticas que dificultam o acesso ao mercado de trabalho.
Mas a maior responsabilidade advém de uma outra crise, uma crise civilizacional, de valores e princípios, que nos está a consumir e que não augura nada de bom para o futuro dos nossos filhos.
Quando vejo adolescentes que não querem estudar e os pais nada fazem para contrariar a vontade dos filhos, penso que está tudo dito em relação à crise civilizacional que referi.
Quando constato que raparigas com 16, 17 ou 18 anos engravidam, e quantos mais filhos têm mais recebem, para receberem o referido rendimento, fico com a ideia de que o futuro destes jovens e destas jovens pode estar hipotecado.
Este meu desabafo foi causa de muitas evidências ao longo dos tempos. E como qualquer evidência, esta também não deve ser mandada para trás das costas.

Paulo «sopas» Amaral

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